Especialista diz que impacto causado nos ecossistemas irá demorar décadas para ser degradado. Petróleo cru já atinge mais de 225 localidades do país

O incidente com óleo que afeta as praias do Nordeste há pelo menos dois meses tem chamado atenção de todo o Brasil e serve de alerta para as cidades da Baixada Santista. É o que aponta o pesquisador, professor e integrante do Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas da Universidade Santa Cecília, Renan Braga Ribeiro. Ele alega também que o impacto causado nos ecossistemas irá demorar décadas para ser degradado.

“Além do impacto visual, outro impacto sócio-econômico direto é na balneabilidade das praias. Elas ficam impróprias para o banho, e consequentemente impacta a economia do local. Esse óleo também penetra no sedimento da praia, em geral quanto mais grossa a areia mais fundo ele penetra, e pode causar a morte de diversos organismos que vivem nas praias, principalmente filtradores”, pontua.

Outra questão levantada pelo pesquisador está relacionada ao efeito químico causado por esse material, podendo levar à morte de organismos de forma direta ou indireta. Renan conta que isso ocorre porque o óleo possui diversos compostos tóxicos como benzeno, tolueno e xileno. E esse impacto ocorre não só em organismos maiores como tartarugas, aves e peixes, mas também em microscópicos, como as larvas, causando assim grande perturbação na comunidade afetada.

Apesar dos perigos, o estudioso acredita que esse incidente não deve afetar as praias e ecossistemas do litoral de São Paulo, mas aponta que algo muito parecido pode ocorrer na região.

Mais de 525 toneladas de resíduos foram retiradas de praias com óleoPetróleo cru já atinge mais de 225 localidades do país (Foto: Divulgação/Governo de Sergipe)

“Apesar da corrente do Brasil fluir para o sul do país, ela passa muito longe da região costeira de São Paulo, então mesmo que as manchas de óleo chegassem muito para o sul, passando o estado do Espírito Santo e o norte do Rio de Janeiro, a probabilidade dessas manchas atingirem as praias da nossa região é muito baixa. Porém, temos intensa movimentação de navios e além disso, uma refinaria em Cubatão e um terminal portuário em São Sebastião que recebe navios petroleiros, além de oleodutos. Nesse sentido, são diversas possíveis fontes de ocorrência [na região]”, pondera.

Apesar dessa questão, Renan lembra que órgãos e empresas envolvidas realizam ações para diminuir o risco e também oferecem treinamentos e simulados de derramamento de óleo para se prepararem caso um acidente aconteça.  “Por exemplo, em 2004 ocorreu um grande vazamento em um trecho do oleoduto OSBAT em Guaecá, em São Sebastião. Por isso a importância dos estudos, treinamentos e da elaboração dos Planos de Emergência Individual (PEI)”, comenta.

O professor finaliza dizendo que o óleo nos ecossistemas vai demorar décadas para ser degradado. E a fauna e a flora desses ecossistemas afetados ainda vão sentir os efeitos do óleo por muito tempo. Além disso, ele lamenta a falta de ação por parte do Governo Federal em incidentes como esse.

“Nesse desastre ocorrido no nordeste, o Governo Federal – mesmo não tendo identificado um culpado ainda -, já deveria ter agido quando apareceram as primeiras manchas, de modo a tentar minimizar o impacto. Infelizmente isso não foi feito e a mobilização ocorreu de maneira tardia. Para evitar problemas desse tipo no futuro, deve-se melhorar nossa capacidade de monitoramento, investindo em pesquisas de novas tecnologias, formas de melhorar a detecção por satélites, etc. E efetivamente monitorar, além de elaborar planos de ação e contingência”, finaliza.

Plano preventivo

Um requerimento entregue na noite desta quinta-feira (24) à Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santos questiona se há monitoramento do risco de contaminação de óleo. A preocupação de que o resíduo possa chegar às praias da Baixada Santista é da autora do documento, a vereadora Telma de Souza (PT).

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Segundo a parlamentar, as manchas de óleo já possuem potencial de alcance às praias do Espírito Santo. Dessa forma, é preciso pensar em prevenir que a Baixada Santista seja afetada pelo problema. Ela ainda frisa que a omissão do Governo Federal sobre o caso a preocupa, e por isso “a Prefeitura de Santos precisa assumir o protagonismo nesta questão e elaborar um plano preventivo de emergência.”

Secretários de Meio Ambiente das nove cidades da Baixada Santista, devem se reunir com representantes do Ibama e da Marinha na próxima terça-feira (29), às 10h, na Sala de Situação, da Prefeitura de Santos, para avaliação sobre o vazamento de óleo que contamina parte do litoral brasileiro e as ações preventivas e mitigadoras em relação ao litoral paulista.

 

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