Uso de água sanitária no combate ao coronavírus
O Conselho Federal de Química publicou um review que detalha informações que integram o “Technical Brief” da Organização Mundial de Saúde (OMS) lançado, neste mês, para auxiliar no enfrentamento à pandemia de coronavírus.
O documento é um roteiro simples, basicamente a diluição de uma pequena quantidade de água sanitária em água potável, que demonstrou ser capaz de eliminar o novo coronavírus (SARS-CoV-2).
Apenas mudando a concentração, é possível dar diferentes usos ao produto. A única recomendação na hora de comprar a água sanitária é que o princípio de cloro ativo seja de 2% a 2,5%.
Usando como medida um copinho de café, de 50 ml, se utiliza metade dessa quantia, dissolvida em um litro d’água, para obter uma solução diluída capaz de eliminar o coronavírus da superfície de mesas, maçanetas, chaves, embalagens e produtos trazidos do supermercado, por exemplo. Concentrações mais elevadas de água sanitária exigem luvas.
– Leia abaixo a reprodução na íntegra do roteiro.
Falta de álcool gel
Nesse momento em que fica difícil encontrar álcool gel no mercado, e que boa parte da população não tem condições de adquiri-lo, o doutor em Ciência Jorge Macedo faz o alerta que a receita mais diluída (a primeira indicada acima) pode também ser usada nas mãos, na falta de álcool gel ou água e sabão.
“Nesse caso, claro, a frequência de uso tem de ser menor porque, pra algumas pessoas, a solução pode causar ressecamento nas mãos e dermatites. Mas quanto à segurança do procedimento não existem dúvidas”, afirma Macedo.
O especialista afirma ainda que, se usadas da maneira correta, as soluções de água sanitária são capazes de deixar o visitante indesejado do lado de fora das casas.
“Basicamente, temos como utilizá-las no pano umedecido, ou com borrifador, desses usados para molhar pequenos vasos de plantas”, assinala.
Título: Solução Caseira para Eliminar o Coronavírus da sua Casa
Em um supermercado compre a água sanitária de sua preferência, leia o rótulo e veja se a concentração de princípio de cloro ativo é de 2 a 2,5%.
ATENÇÃO: a água sanitária pura, tem pH 11,5-13,5 e não adianta você utilizá-la pura pois o que leva a morte dos organismos é uma substância chamada “ácido hipocloroso (HClO)” que não existe em pH tão alto como o da água sanitária pura.
Falamos: “A água sanitária pura não faz nem cócegas no vírus!! Se morrer, o vírus vai morrer por afogamento ou pelo cheiro!”
Logo, vamos te ensinar a preparar uma solução diluída de água sanitária que em poucos segundos (15 a 20s) vai eliminar o coronavírus da superfície dos objetos de sua casa!
Preparo:
1 – Pegue um copinho descartável para café, esse copinho tem a com capacidade de 50 mL.
2 – Coloque 25 mL de água sanitária pura no copinho! Ou seja, você deve colocar água sanitária ate ́ a metade do copinho!!
Você me pergunta: E se passar um pouco?? Não tem problema! Nesse caso não pode faltar!
3 – Pegue uma garrafa de plástico com capacidade de 1 L, coloque um pouco de água e adicione os 25 mL de água sanitária.
4 – Complete o volume da garrafa com água, tampe e agite para misturar a água sanitária com a água.
5 – ATENÇÃO:
5.1 – Não deixe o frasco exposto a luz, guarde em lugar fresco, dentro de um armário e somente retire no momento que for utilizar!
5.2 – Identifique o frasco arrume uma etiqueta e cole com o nome “Água Sanitária Diluída” ou escreva o nome no frasco com uma caneta de tinta permanente, dessas para escrever em cd. Faça isso logo após o preparo!
5.3- Você vai notar que, nem tem odor característico forte da água sanitária e por isso é preciso identificar o conteúdo do frasco! Essa solução é fatal para o coronavírus de 15 a 20 segundos!
Como aplicar em superfícies:
1 – Umedeça um pano limpo nessa solução, passe nas embalagens dos produtos que comprou, nas chaves, nas maçanetas, nas mesas, etc NÃO PASSE NO CELULAR!!!
2 – Se você tiver a pele mais sensível utilize a solução com luvas!
3 – A maioria das pessoas não terá nenhum problema no contato com essa solução diluída, mas o uso constante pode levar ao ressecamento ou uma
4 – Outro processo de aplicação: pegue um frasco com borrifador, coloque a água sanitária diluída, borrife nas superfícies e, após 15-20s retire o excesso com um pano seco e limpo, nesse método não se tem contato direto com a solução.
Observação: Para pisos, áreas abertas, sanitários, solas de sapato, etc. , basta você preparar a solução com um copinho cheio ate ́ o topo com a água sanitária pura siga as mesmas orientações.
– Essa solução é muito mais concentrada, por isso utilize luvas ao usá-la!!
– Prepare a solução, umedeça um pano limpo e coloque após a porta. Ao entrar passe sobre ele as solas do seu sapato!!
– Sempre que for necessário, umedeça o pano novamente com a solução!!
A EXPLICAÇÃO DA SUSTENTAÇÃO CIENTÍFICA DA AÇÃO DE DESINFECÇÃO DAS SOLUÇÕES DILUÍDAS
1 – Introdução
Com base nas informações da OMS Organização Mundial da Saúde (WHO), esse Review é distribuído em duas partes: uma para leigos, para o dia a dia de suas residências e a segunda parte para aqueles que tiverem interesse em conhecer os princípios científicos que norteiam as orientações!
O SARS-Cov-2 é um vírus envelopado, com um fragmento externo – membrana. Geralmente, os vírus envelopados são menos estáveis no ambiente e mais suscetível a oxidantes, como exemplo, os derivados clorados (WHO/UNICEF, 2020).
A solução diluída de um derivado clorado (0,05% = 500 ppm) pode ser usada para desinfetar as mãos quando não há possibilidade de usar nelas o produto à base de álcool ou sabão. No entanto, soluções diluídas de cloro não são recomendadas (por serem agentes oxidantes) quando se tem disponível para as mãos o álcool 70% ou sabão e água (WHO, 2020).
Na utilização da solução diluída de cloro há um risco maior de irritação nas mãos e efeitos nocivos à saúde, por exemplo, ao produzir e diluir soluções de cloro. Outras soluções de cloro, principalmente as mais diluídas, devem ser feitas diariamente, armazenadas em local fresco e seco, com a tampa afastada da luz solar; caso contrário, elas podem perder potência e eficácia na desinfecção (WHO, 2020).
2. Informações sobre as soluções cloradas diluídas preparadas.
É importante ressaltar que não existe “CLORO” na natureza. A terminologia utilizada, o jargão popular “vai colocar cloro na água”, é uma afirmação totalmente equivocada do ponto de vista químico, esse nome foi usado por várias vezes nesse Review, em função dele ser, na imensa maioria, para pessoas leigas.
Existem diversos derivados clorados à disposição, a escolha do hipoclorito de sódio (NaClO) para preparo das soluções é função da facilidade de encontrar a chamada água sanitária, que o tem como princípio ativo.
Em resumo, repetindo, cientificamente, é incorreto citar que adicionamos “cloro na água”. Na verdade, adicionamos um derivado clorado na água que no seu processo de hidrólise libera uma substância química, o HClO (ácido hipocloroso), que consegue reduzir a nível seguro a contaminação de superfícies. A terminologia “cloro” virou uma expressão popular (ANDRADE, MACEDO, 1996; MACEDO, 2009, 2016, 2019).
A cloração está vinculada a liberação de HClO após a hidrólise de derivado clorado no meio aquoso. O uso contínuo do cloro só ocorreu a partir de 1902, na Bélgica, com o chamado refinamento da cloração, isto é, determinação das formas de cloro combinado (CRC – as cloraminas) e residual livre (CRL – ácido hipocloroso), e a cloração baseada em controles bacteriológicos (ANDRADE, MACEDO, 1996; MACEDO, 2009, 2016, 2019).
Os compostos clorados são mais efetivos em valores de pH mais baixos, quando a presença de ácido hipocloroso é dominante, por isso, foi indicado que se faça uma solução diluída de água sanitária, pois com a diluição reduzimos o pH. A OMS indica que para a desinfecção ser efetiva é necessário que o pH esteja na faixa 6,5-8,5.
A escolha do valor 8,5 se justifica também na pesquisa realizada em teste de uso simulado utilizando soluções com derivados clorados com pH máximo de 8,3, que obteve resultados significativos no processo de desinfecção de cupons de provas inseridos em tubulações (MELLO, 1997 apud MACEDO, 2009, 2016, 2019).
2.1. Os cálculos para definição dos volumes indicados para o preparo das soluções diluídas de água sanitária.
A água sanitária possui de 2 a 2,5% de princípio ativo, logo ela possui de 20.000 a 25.000 mg CRL/L, expressos, em mg Cl2/L.
Para fazer os cálculos foi usada como referência a menor concentração, 2%, pois se ela estiver com mais de 2% nossa solução diluída vai ficar um pouco mais concentrada, até mais efetiva no processo de desinfecção, dando maior segurança de eliminação do coronavírus.
20.000 mg CRL————- — 1.000 mL água sanitária
X mg CRL —————- 25 mL água sanitária X = (20.000 x 25) / 1000 = 500 mg CRL
Logo, quando indico que se coloque 25 mL da água sanitária em 1L de água, estou produzindo uma solução diluída de no mínimo 500 mg CRL/L o que é exatamente a solução 0,05% indicada pela OMS.
Já na solução indicada para solas de sapatos, como o volume é dobrado terá, no mínimo, 1000 mg CRL/L.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, N. J.; MACÊDO, J. A. B. Higienização na Indústria de Alimentos. São Paulo: Livraria Varela Ltda. 182p. 1996.
MACEDO, J. A. B. Desinfecção & Esterilização Química. Belo Horizonte: CRQ-MG. 737p. 2009. MACEDO, J. A. B. Águas & Águas. 4a. Edição. Belo Horizonte: CRQ-MG. 944p. 2016.
MACEDO, J. A. B. Piscina – Água & Tratamento & Química. 2a. Edição. Belo Horizonte: CRQ-MG. 775p. 2019.
MELLO, C. A. Avaliação da eficiência de sanificantes químicos em condições de uso simulado sobre psicrotróficos acidificantes. 62p. Viçosa. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos)- Universidade Federal de Viçosa. 1997.
WHO. Q&A on infection prevention and control for health care workers caring for patients with suspected or confirmed 2019- nCoV. 1 March 2020. Disponível em: <https://www.who.int/news-room/q-a-detail/q-a-on-infection-prevention-and-control-for-health-care-workers-caring-for-patients-with-suspected-or- confirmed-2019-ncov> Acesso em 21 de março 2020.
WHO/UNICEF. Water, sanitation, hygiene and waste management for the COVID-19 virus. Technical brief. Genebra: WHO – World Health Organization/UNICEF – United Nations Children’s Fund. 9p. 3 March 2020.
Sobre o Autor do Roteiro
O roteiro foi adaptado pelo doutor em Ciência Jorge Macedo, especialista em desinfecção química e tratamento de águas e efluentes, ele é autor de 20 livros sobre diversos temas, dentre eles, a desinfecção e esterilização química, o documento foi elaborado com o apoio do Sistema CFQ/CRQs.
Review por Jorge Macedo, D.Sc. (www.jorgemacedo.pro.br)
Apoio: Conselho Federal de Química e Conselho Regional de Química (MG)
Publicado por Sistema CFQ/CRQs